BULIMIA: Histórias de garotas que sofreram problemas alimentares

Se você anda descontando o estresse, a ansiedade ou a baixa autoestima na comida, pulando refeições ou até exagerando à mesa, é bom ficar alerta. É exatamente assim que você dá brecha para o surgimento de um distúrbio alimentar como a anorexia e a bulimia, que são tão sérios que chegam a matar. Conheça a história de quem já passou por isso e aprenda a se proteger


“Cheguei aos 39 quilos, com 1,65 m de altura. E continuava me olhando no espelho e me achando supergorda”, conta Juliana*, de 25 anos, que passou por esse perrengue aos 18. O capítulo mais triste da história da vida dela começou quando a garota encasquetou de passar no vestibular de medicina em uma faculdade bacana. Pra isso, ela passava o dia todo estudando. “Ia de manhã pro cursinho e, quando chegava em casa, logo abria a mochila e continuava lendo. Só parava à noite, para dormir”, lembra.

Só que passar em medicina não é nada fácil e, pra ajudar, a Ju bombou em vários exames. Com isso, ia ficando cada vez mais triste, angustiada, estressada. Sem perceber, foi deixando a comida em segundo plano, pulava refeições, beliscava só uma besteirinha aqui, outra ali. Emagreceu horrores e se acostumou com o corpo magro. “Na verdade, a minha vontade era emagrecer cada vez mais. Sempre que me olhava no espelho não ficava satisfeita, ainda me achava gorda”, lembra.

Nessa fase, a Ju já estava num estágio mais avançado da anorexia, em que a pessoa começa a ver a própria imagem distorcida no espelho. Assim, por mais que emagrecesse, ela sempre se enxergava acima do peso. “A anorexia é caracterizada pelo peso abaixo do normal para a idade e a altura. É comum ocorrer, ainda, uma distorção da imagem e um medo exagerado de ganhar peso. A ausência da menstruação é outro sintoma clássico. No mais, as pessoas com anorexia normalmente resistem a reconhecer que estão doentes”, explica o psiquiatra Adriano Segal, diretor de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
Com a Juliana foi exatamente assim. Ela não queria que seus pais percebessem nada e, quando eles notaram que a filha estava muito magra, rolaram brigas e mais brigas na casa da Ju. “Eu chorava quando a minha mãe vinha com um prato de banana amassada para eu comer à tarde. Eu não via a fruta, só um montão de calorias entrando no meu corpo”, desabafa. Apesar da resistência, os pais da Ju insistiram para ela bater um papo com um psicólogo. E foi assim que salvaram a vida dela. Nas sessões, a Juliana contou para a psico coisas que não tinha coragem de abrir nem para os próprios pais e, entre uma conversa e outra, começou a enxergar as coisas de um jeito diferente. Acabou resolvendo seus maiores conflitos e, como num passe de mágica, o medo de comer passou. “Acabei mudando meus planos e prestei vestibular para veterinária. Consegui entrar na faculdade logo de cara e fiz novos amigos, que me ajudaram a gostar mais de mim mesma. Na época, também ganhei uma gatinha de estimação que me fez mudar o foco, esquecer aquela obsessão louca que eu tinha pela magreza”, conta.
Do bullying à bulimiaOutra que enfrentou uma barra foi a Helena*, de 19 anos. Com 13, ela já tinha certa encanação em engordar e comia o mínimo possível. Dois anos depois, o problema se intensificou por conta do bullying que ela sofria no colégio. “Mesmo rodeada de pessoas, eu sempre me sentia sozinha. Tinha a impressão de que todos me olhavam na rua e riam de mim. Ou, então, que sentiam pena”, lembra. Totalmente deprê, ela passou a sair de casa cada vez menos e parou de prestar atenção nas aulas, nem estudava mais. Em casa, comia pouco, malhava muito e, de vez em quando, ainda provocava o vômito. “Eu evitava me alimentar na frente das pessoas, porque sempre tinha alguém que criticava, dizendo que eu estava comendo muito pouco. E eu estava mesmo. Quando comia muito, logo em seguida ia para o banheiro vomitar”, conta.
O caso é que ela já estava sofrendo de bulimia nervosa. “O problema é caracterizado pela ingestão excessiva de alimentos, seguida de estratégias inadequadas para perder peso, como o vômito forçado, o uso frequente de laxantes e diuréticos, a prática excessiva de exercícios físicos ou mesmo jejuns prolongados”, explica Segal. “Ir ao banheiro logo após as refeições, não querer comer com a família, ter grandes alterações de humor, se isolar dos amigos ou até mesmo comer compulsivamente são outros comportamentos que sinalizam a doença”, avisa o psiquiatra Glauber Higa Kaio, especialista em transtornos alimentares do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares da Universidade Federal de São Paulo (Proata).
Mas mesmo com todos esses sintomas, a Lê só se deu conta do problemão em que tinha se metido quando atingiu os 42 quilos, mesmo tendo 1,70 m. “Eu já estava me sentindo muito fraca e comecei a desmaiar toda hora. Até meus dentes estavam mudando”, diz. Por sorte, ela deu a volta por cima antes que fosse tarde demais. Porque muita gente não sabe, mas os distúrbios alimentares podem até matar! A deficiência de nutrientes faz o corpo ficar cada vez mais fraco para reagir às doenças e, daí, qualquer gripezinha pode fazer um estrago no organismo. Além disso, sem combustível para funcionar, o corpo pode até parar de cumprir as suas funções vitais e órgãos como o coração podem ser atingidos, levando a um desfecho fatal.
Felizmente, a Helena arrumou um jeito de aliviar as tensões e hoje controla a sua neura numa boa. “Resolvi escrever um diário e isso me ajudou muito. Ainda não estou totalmente curada, mas já parei de fazer coisas absurdas como provocar o vômito ou passar dias inteiros sem comer quase nada”, garante.
*Os nomes foram mudados a pedido das garotas, para preservar a privacidade delas.


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