Automutilação: "Uma vez, fiz um corte tão profundo no pulso, que quase perdi os movimentos da mão."


Descontentamento com o corpo, expectativas frustradas, insegurança sobre o futuro, cobranças da família e medo de decepcionar.

Enfim, são muitas as angústias da adolescência e lidar com elas não é nada fácil. Alguns extravasam no esporte, outros preferem escrever, há jovens que optam pela música ou simplesmente desabafam com os amigos.

Mas também existem aqueles que, com dificuldade de se expressar, descontam tudo no próprio corpo por meio da auto mutilação.

Arranhões, cortes, queimaduras, puxões de cabelo, bater a cabeça contra a parede são as maneiras
que eles encontram para fugir da pressão, descarregar a tensão e diminuir a tristeza.

Para a psiquiatra Vera Zimmermann, coordenadora do CRIA - Centro de Referência da Infância e Adolescência da Unifesp - esse comportamento se aproxima da patologia: "Eles não enxergam a pele como invólucro do corpo, como proteção. Na hora da angústia, não há limites e eles só conseguem extravasar em si mesmos. A dor física expressa a dor emocional."

Cristina*, 15 anos, conta que começou a se mutilar aos 10 por causa de problemas familiares: "Eu me corto com gilete, caco de vidro, o que tiver por perto. Uma vez, na escola, quebrei uma lapiseira pra poder me cortar". Ela confessa que, apesar de não se dar bem com a mãe até hoje, os problemas que a motivaram naquela época ficaram para trás. Mesmo assim, ela continua praticando o cutting: "Eu já escrevi vários cadernos, mas não adianta, por dentro eu continuo me odiando. Uma vez, fiz um corte tão profundo no pulso, que quase perdi os movimentos da mão. Fui parar no hospital e inventei uma história qualquer para o médico."

Com tantos ferimentos e roupa por cima para esconder, é comum os cortes infeccionarem.

Érica*, 20 anos, começou a se mutilar aos 11 e só conseguiuparar há 3 meses: "Eu tinha alguns amigos que faziam e comecei a fazer também. Antes de me cortar, eu chorava, ficava desesperada, mas quando via o sangue e as marcas, me sentia aliviada", conta. Problemas com drogas foram o pontapé inicial para ela se cortar, mas também para procurar ajuda: "Eu era dependente de crack, mas também usava maconha e cocaína. Eu me cortava quando estava sob efeito da droga e quando tinha crises de abstinência. Quando percebi que estava no meu limite, e procurei ajuda."

Não há dados estatísticos se quem sofre mais com a auto mutilação são os meninos ou as meninas, mas uma coisa é certa: as maiores vítimas são os adolescentes.

*Os nomes foram trocados*

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